sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Uma terra bipolar

- Que disparate, senhores magistrados! Onde é que já se viu um planeta bipolar? - perguntou o advogado do arguido.
A sala estava apinhada. Entre queixosos e familiares, repórteres e curiosos, havia gente que não tinha lugar sentado. O advogado fazia gestos grandiosos, acrescentando ao ridículo da situação.
- O meu cliente limitou-se a escrever uma fantasia, uma fabulação, uma fragmento febril de uma fíbula fantástica. Nunca quis ofender os queixosos, nem a eles se estava a referir. Se eles se sentiram mal, eu e o meu cliente estendemos as nossas condolências, mas nada temos a ver com isso.
- Pois Sr. Dr. - interrompeu o juiz -, isso é tudo muito bonito, mas de facto o nosso Portugal fica num planeta com dois pólos, poder-se-á considerar bipolar, e o seu cliente menciona factos muito concretos, relativos aos queixosos.
- Sua Excelência terá de me perdoar a ignorância - disse o advogado de defesa, em tom humilde -, mas se são factos concretos, haverá então razão para este processo? E quanto ao uso criativo que Sua Excelência deu à palavra bipolar, permita-me que lhe diga, com tanta imaginação, pode ainda vir a ser o próximo autor do "terra bipolar"

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